sábado, fevereiro 08, 2014
BRINCADEIRA DE CRIANÇA
Estava a conversar com um dos confrades de nossa Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, e eis que surgiu na mesa de debates a proposta de eu escrever algo que nos remetesse à infância. Eis que aqui estamos
A vida de qualquer ser humano possui suas peculiaridades. E como tal a minha não poderia ser diferente. Todos passamos pelo período da infância. Mas muitos apenas passam e não vivem intensamente esta fase mágica e lúdica da vida. E com certeza os adultos de hoje, que não foram crianças ontem, e que não guardam dentro de si memórias e fantasias da infância, são muito mais duros, e infelizes. São pessoas que não sonham, que deixaram a criatividade de lado.
Mas relembrando minha infância, não esqueço dos primeiros momentos desta fase no Rio de Janeiro onde nasci e morei até meus sete anos de idade. Na rua Magé, no bairro da Penha, conheci as primeira brincadeiras como a bola de gude e a pipa. As pipas eram brincadeiras de meninos mais velhos devido aos perigos inerentes às mesmas. Já as bolas de gude uma brincadeira saudável e que os menores, como eu, podiam brincar na rua, ou dentro de casa. As bolas de gude foram trazidas ao Brasil pelos portugueses. O nome gude vem da palavra godê, que significava bolas arrendondadas. Esta brincadeira não é tão nova assim entre os meninos. Os relatos arqueológicos dão conta de que as mesmas já existiam no antigo Egito no ano 3.000 AC, e na Grécia antiga no na ano 2.000 AC. Eu não brinquei nesta época, mas tive contato com as bolinhas coloridas, e de vidro, na década de 70 do século XX.
Aos 7 anos minha família se mudou definitivamente do Rio de Janeiro para o Ceará. E aqui nas terras alencarinas o que antes conhecia como bola de gude e pipa, mudaram seus vocabulários para bila e arraia. No começo estranhei. Mas depois descobri que o mais importante não são os regionalismos excludentes, mas o prazer que a brincadeira proporciona. Em Camocim, na rua Santos Dumont já brincava com as bilas disputando com os amiguinhos. Na frente de casa havia um campo de futebol, ao lado da prefeitura municipal, onde marcávamos os buracos e iniciávamos as disputas. Mesmo como criança, surgia dentro de nós o espírito de competição e conquista.
Mas foi na cidade de Aracati, para onde nos mudamos quando eu já tinha 10 anos em 1981, que me interessei mais ainda por esta saudável brincadeira. Nem mais me lembrava o que era bola de gude. Mas sabia o que eram as bilas. E quanto mais tinha, mais queria. Porém o mais gostoso do que comprar, era mesmo ganhar as bilas dos amigos. As pequenas esferas de vidro brilhante me encantavam. Eram de diversas cores. Azuis, verdes claras e escuras, brancas e transparentes. Na velha Aracati, o palco das disputas já não era mais um campo de futebol, mas os canteiros da rua Coronel Alexanzito, onde eu morava. Após as aulas no Colégio Salesiano, o encontro era certo nos canteiros. Vestidos de bermuda com os bolsos cheios de bilas, e latas não menos lotadas, buscávamos mais bolinhas para nosso deleite.
As maneiras de jogar eram diversas. Mas o que era legal era jogar com força e chegar a quebrar a bila do adversário. E a força se impunha no jogo. Logo inventaram o “cocão”, uma bila maior de vidro branco, que era detonadora. Consegui algumas destas, mas só fiquei mais feliz quando comprei o que havia de mais moderno e eficiente em termos de bilas. Eram as desejadas esferas de rolamento de trator, que eram de ferro. Estas sim verdadeiramente poderosas. Objetos de desejo de poucos, mas conquistadas por mim.
Enfim, as conquistas de adulto passam pelos aprendizados das brincadeiras de criança de outrora.
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