EXPLORAR E HOMENAGEAR?
Se observarmos bem a realidade das emissoras de TV da Capital Cearense, perceberemos que possuímos bons profissionais. Não pela formação cultural ou educacional de muitos. Já que dentro das estruturas, poucos conseguiram entrar nos bancos do ensino superior, como produtores, editores e repórteres. Digo bons principalmente em relação aos editores de imagens, cinegrafistas e auxiliares. Pessoas que vieram de outras áreas para dentro das TVs, realizando hoje importantes funções que contribuem para levar imagens e informações à população.Estes profissionais são bons porque sem estrutura, com baixos salários, e sendo explorados, ainda conseguem dar conta de seu trabalho. Um ofício que ao longo dos anos vira um vício. Eles sentem-se parte das transformações sociais que a informação jornalística leva às diversas camadas da população. Acompanhando cinegrafistas, e editores percebemos como a maioria procura fazer o trabalho render, e com qualidade. Talvez, dentro de seus corações, exista uma esperança de um dia a situação da qualidade de trabalho nos meios de comunicação venha a melhorar.
Com certeza, qualquer profissional de TV no Ceará daria um show se fosse contratado por uma grande emissora nacional, onde lhe dessem toda a estrutura necessária para o trabalho, respeito à legislação trabalhista, e salários dignos. Digo isto, porque como falei antes eles aprenderam na prática. E dão bons resultados por que são nordestinos, e como tal são fortes para tentar vencer as adversidades do cotidiano.
A situação de desmobilização da categoria dos cinegrafistas, editores e auxiliares, que são filiados ao Sindicato dos Radialistas, passa pela falta de formação educacional e cultural. Para os empresários é mais fácil manipular um profissional sem senso crítico e sem embasamento cultural. Com isso os bons profissionais são descartados, e novos são contratados sem um critério sério e coerente, gerando uma “oferta” excedente de mão de obra, que contribui ainda mais para o achatamento dos “salários” pagos atualmente.
Preconceitos à parte, durante mais de 10 anos já vimos nas emissoras que trabalhamos serventes e auxiliares de serviços gerais serem transformados em cinegrafistas. Não que estas pessoas não devam ter permissão de ascender socialmente, mas que para exercer estas funções deveriam um curso de capacitação, tivessem pelo menos o segundo grau, ou já estivessem em uma faculdade. A visão de mundo destes profissionais seria outra, tanto em relação às notícias produzidas, quanto em relação às suas vidas, e suas relações trabalhistas.
Voltando à preparação cultural intelectual, também encontramos outros profissionais de rádio que amam o que fazem. São os locutores entrevistadores, que muitas vezes a mando das empresas e por necessidade de trabalhar tomam os lugares de jornalistas profissionais nas funções de repórter. Embora com uma formação a desejar, alguns são comprometidos com o que fazem e buscam ser éticos. Vestem a camisa da produção de notícias.
No âmbito dos programas policiais encontramos mais destes tipos de profissionais. Recentemente perdemos um destes comunicadores, que morreu repentinamente. O sr. Jorge Ribeiro, pessoa com quem trabalhamos na TV Diário do Sistema Verdes Mares de Comunicação. Jorge Ribeiro em seu mister era dedicado e comprometido, embora não fosse jornalista. Percebíamos claramente o seu comprometimento em buscar boas notícias para as edições do programa Rota 22. Possuía fontes, contatos com a polícia, e entendia do que fazia. Um homem simples, que vibrava com a notícia, e que tinha uma boa convivência com seus colegas de trabalho. Embora bem mais velho do que outros colegas de redação, Jorge virava um jovem quando estava em busca de novas notícias. Ele se foi, e outros virão para assumir seu lugar. Render homenagens ao colega de imprensa falecido é algo justo, por sua dedicação e empenho.Na minha opinião as homenagens dos colegas são aceitáveis. Mas as poucas homenagens da diretoria da TV Diário, são questionáveis. Digo isto, pois como outros colegas daquela emissora Jorge Ribeiro era mais um profissional explorado pela direção da TV. Como os demais ele sonhava com um futuro melhor dentro da profissão, mas que, sob o julgo de uma administração autoritária, era obrigado a aceitar as regras do jogo impostas por poucos que esquecem-se de seu passado, e ameaçam com demissões infundadas. Pessoas que em cargo de chefia não conseguem perceber o lado humano das pessoas com que trabalham, e acham-se donos dos veículos de comunicação, tentando equacionar problemas no grito.
Isto acontece em grande parte por que os interesses pessoais deste “profissionais” ofuscam uma visão plena sobre os profissionais das redações cearenses. O falecido repórter do Rota 22 não será o primeiro, e nem o último profissional de imprensa a ser homenageado pelas empresas. Uma homenagem fria, sem sentido, e que só vem depois da morte do funcionário.Logo nos questionamos se é válido explorar os profissionais de imprensa durante toda a vida, para depois homenagear? Lógico que não! Digo isto porque já recebi três singelas e importantes homenagens, que me deixaram orgulho. Estou vivo.
Cada profissional de telejornalismo sonha com um futuro melhor para si, e seus familiares. Mas com o salário de fome, não dá nem para comer direito. A verdadeira homenagem que cada profissional de imprensa deste estado deseja receber é em vida. E a homenagem não é nada mais, nada menos do que uma obrigação de cumprir moralmente e legalmente o que cada profissional tem direito. A verdadeira homenagem passa pelo respeito à dignidade humana dos profissionais que não merecem receber gritos, ao cumprimento da legislação trabalhista, e a implantação de um profissionalismo ainda inexistente. Por tudo isto somos contra homenagens falsas àqueles que partiram, e foram explorados em vida. Eu, por exemplo, dispenso estas “homenagens”.
Fernando DantasAdvogado/Jornalista
segunda-feira, outubro 23, 2006
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